Nas ocorrências em que aparece no plural, o grego ἀρχιερεύς (archiereús) é usualmente traduzido como “principais sacerdotes” na maioria das versões do NT em português. Porém, uma tradução literal seria “sumos sacerdotes”, a qual não costuma ser adotada para se evitar mal-entendidos.
Esse cuidado é necessário porque havia somente um sumo sacerdote em exercício. As passagens que mencionam “archiereús” no plural dizem respeito a um grupo influente dentro da elite sacerdotal. Sendo assim, o termo “principais sacerdotes” incluía:
• O sumo sacerdote em exercício;
• Sumos sacerdotes anteriores;
• Chefes dos 24 turnos sacerdotais que serviam no Templo;
• Membros do Sinédrio com função sacerdotal.
Quanto ao sumo sacerdote, propriamente dito, ele representava a maior autoridade espiritual entre os judeus. O início da função de sumo sacerdote se deu com Arão, da tribo de Levi, cujos detalhes de sua escolha e prerrogativas encontramos em Êxodo, capítulos 28 e 29, e Levítico, capítulos 8 a 10 e 26. . Apesar de todos os homens da tribo de Levi (os levitas) auxiliarem os sacerdotes nos serviços sagrados, somente os descendentes diretos de Arão podiam exercer o ofício sacerdotal. E, dentre esses, apenas um podia exercer o ofício de sumo sacerdote, o qual vestia roupas especiais (cf. Êxodo 28), incluindo o peitoral com 12 pedras representando as tribos de Israel. As prerrogativas do sumo sacerdote eram, principalmente:
• Entrar no Santo dos Santos no Templo, uma vez por ano, no Dia da Expiação (Yom Kippur), para oferecer sacrifícios pelo pecado do povo (cf. Levítico 16);
• Supervisionar o culto do Templo, os sacrifícios e a pureza ritual;
• Representar o povo diante de Deus, especialmente em momentos de intercessão e arrependimento.
No tempo do Novo Testamento, em que os judeus estavam sob domínio romano, o sumo sacerdote era nomeado por Roma através de seus representantes políticos locais. O sumo sacerdote ainda tinha que ser um descendente de Arão, mas o tempo de serviço no templo dependeria da conveniência política, podendo durar muitos anos caso ele atendesse aos interesses romanos.
No relato dos evangelhos, Anás e Caifás são mencionados como sumos sacerdotes (Lc 3:2). Não é que houvesse dois oficiais ao mesmo tempo, mas Anás ainda era reconhecido como tal pelo povo, mesmo após deixar o cargo, em 15 d.C. Anás era sogro de Caifás (Jo 18:13), o qual foi sumo sacerdote entre 18 e 36 d.C. Ambos, Anás e Caifás, participaram da reunião do Sinédrio em que Jesus foi condenado (João 18:13-24; Mateus 26:57–68; Marcos 14:53–65; Lucas 22:54–71; João 18:13–27).